Estava amanhecendo, T.M. dormia. No quarto ao
lado, a briga da mãe com o namorado crescia, com xingamentos e ameaças físicas –
ela, ainda sob o efeito de cigarros de maconha combinados com cerveja.
T.M. saiu do quarto, foi para a cozinha,
pegou uma faca, sentou-se no sofá da sala. Pela terceira vez em sua vida,
tentou se matar. Antes tinha cortado os pulsos e se jogado na frente de um
carro. Dessa vez, enfiou a faca na barriga.
Após deixar o hospital, procurou o PROAD
(Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), do Departamento de
Psiquiatria da USP. “Queria chamar a atenção”, resume a jovem. Nas três vezes
em que tentou “chamar a atenção” com o suicídio, ela estava mergulhada nas
drogas.
***
T.M. repete uma prática trágica e rotineira
para os dependentes de drogas, verificada numa pesquisa realizada pelo PROAD
com 427 de seus pacientes: a tentativa de suicídio. Da amostra pesquisada, 21%
deles usavam crack, 16% consumiam
álcool, 16% usavam cocaína (injetada ou aspirada) e 9% maconha. Perto de um
quarto usava múltiplas drogas.
O estudo constatou que 23% tentaram o
suicídio – na população em geral, o índice é de 1%. A investigação do PROAD
mostra como a droga serve de estímulo – ou mesmo origem – para a autoviolência,
no caso a tentativa de suicídio. A droga, em essência, dá combustível aos
processos de destruição e autodestruição.
Tanto a depressão quanto as turbulências
emocionais levam à dependência – o que é mais comum –, assim como a própria
droga leva à instabilidade. A droga afeta uma série de neurotransmissores,
entre eles a serotonina, associada ao bem-estar mental. A redução do
funcionamento desse neurotransmissor é explicada como uma das causas da
depressão.
Mesmo fora da categoria de tentativa de
suicídio, outro comportamento pode ser, na prática, enquadrado dessa maneira: a
promiscuidade sexual. Entrevistados chegaram a dizer que, mesmo suspeitando que
um parceiro tivesse SIDA, tiveram com ele relações sem camisinha. É claro que
isso, no fundo, é um jeito de procurar a morte.
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